quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Manutenção de Bikes com Pablo Sani


PUBLICADO EM 22 DE FEVEREIRO DE 2011 ÀS 18:42 em www.bikemagazine.com.br
Texto e fotos de Marcos Adami/Bikemagazine
Reproduzido com autorização da revista Bike Action
Em uma corrida por etapas, além de atletas bem treinados, as equipes dependem muito do trabalho dos mecânicos. São eles que entram em ação após cada jornada na estrada.
A Bike Action acompanhou de perto um dia na vida do uruguaio Pablo Sani, mecânico responsável pelas bicicletas da equipe paranaense Clube DataRo de Ciclismo. A convite de Hernandes Quadri Junior, responsável pela equipe na corrida, andamos no carro de apoio durante a segunda etapa do Giro do Interior de São Paulo e tivemos a oportunidade de ver o mecânico em ação, cuja habilidade é tão grande que em 10 segundos trocou a roda de Gregory Panizo, como visto pela na reportagem.
Antes de se estabelecer no Brasil, em 1989, Sani foi ciclista em seu país e atualmente divide o trabalho na DataRo com a sua loja, a Tecnobike, na cidade de Guabiruba, a 10 km de Brusque, no interior de Santa Catarina.
Antes de cada competição, todo atleta é orientado a se apresentar para a prova com a bike em ordem, para evitar reparos e atropelos de última hora. “Na Europa isso não acontece, pois cada ciclista tem uma bicicleta exclusiva para competição que fica com a equipe”, conta.
A equipe mantém pelo menos uma bike de reserva sobre o rack no carro de apoio que segue o pelotão, além de vários componentes como cinco pares de rodas, raios, quatro pneus, guidões, mesas, garfos, dois câmbios, correntes, selins, canotes, pedais, cabos e conduítes, pedivelas, rolamentos do movimento central, caixas de direção etc.
Numa prova por etapas, não se remendam câmaras de ar. Como a equipe tem o patrocínio da Maxxis, eventuais câmaras furadas são substituídas por novas e depois de reparadas são distribuídas aos atletas para serem usadas nos treinos.
“Temos que ter vários componentes, pois nos casos de quedas muitas peças, inclusive o próprio quadro, podem se quebrar”, explica. E se acontecer de faltar alguma peça durante a competição? Pablo responde rapidamente: “Nós mecânicos somos bastante unidos. Pode acontecer o caso de precisar emprestar alguma peça de outra equipe. Na hora da prova todo mundo é rival e faz a sua corrida, mas depois é todo mundo companheiro”, ensina.
Além das bikes de estrada, Pablo também é responsável pela manutenção das bikes de crono, as “cabritas” como são popularmente conhecidas no pelotão, usadas nas provas de contrarrelógio individual.
O PASSO A PASSO
A etapa acompanhada pela reportagem terminou da melhor maneira possível para a DataRo. Renato Seabra escapou do pelotão, venceu e assumiu a liderança geral da competição e a vice-liderança da disputa de montanhas. Depois das comemorações e do almoço chegou a hora de Sani entrar em ação e dar um trato cuidadoso em cada bicicleta enquanto os atletas tiravam uma soneca ou recebiam massagem relaxante.
O primeiro passo é encontrar um lugar espaçoso no hotel e que tenha água corrente. Muitas vezes o cavalete é montado num canto do estacionamento ou mesmo na calçada.
A primeira coisa a ser feita é a lavagem da bike. A roda dianteira é retirada e a bike é encaixada no cavalete. Depois, a corrente e os câmbios recebem uma aplicação generosa de desengraxante ou querosene. Após enxaguada a corrente, é a vez de lavar o restante da bike com xampu ou sabão neutro, que é espalhado com uma esponja. As rodas e pneus são esfregados com uma escova grande para poupar tempo, afinal, Sani teve que cuidar das bikes dos seis atletas que disputavam o Giro do Interior.
Enquanto as mãos enxugam a bike, os olhos inspecionam os componentes, principalmente o quadro e o garfo, em busca de irregularidades como pequenas trincas ou fissuras.
A liderança na classificação individual força o profissional a ser mais meticuloso. “Quando um atleta nosso está com a camisa de líder, instintivamente a inspeção é mais detalhada.”
Se o ciclista passou alguma informação ou reclamou de algo sobre a bicicleta, o papel do mecânico é sanar o problema informado, caso contrário a rotina é fazer a checagem habitual.
Depois da bike seca, a próxima etapa é verificar a integridade dos raios e o alinhamento das rodas, que é verificada tomando-se como base as sapatas de freios.
“Via de regra, os cubos de rodas são revisados antes da prova. Cubos só são abertos durante uma competição se houver alguma anormalidade, como barulho ou alguma folga”, explica Sani.
A caixa de direção tem a folga verificada, assim como o aperto da mesa. Se notar que frequentemente a caixa está com folga é programada uma manutenção.
Em seguida, as partes móveis dos câmbios são lubrificadas. A corrente é verificada com atenção para se certificar de que não há nenhum elo se abrindo. O desgaste também é checado e a corrente recebe uma boa dose de lubrificante especial para esse componente.
Os freios são testados e, se houver algum que esteja com o funcionamento lento ou emperrado, o cabo é examinado e lubrificado. A parte próxima à curva do câmbio é retirada e parcialmente e lubrificada para um funcionamento perfeito. A bike está pronta para mais uma etapa.
Normalmente, nas corridas por etapas, as bicicletas ficam todas armazenadas numa área do hotel reservada especialmente para esse fim. Por precaução, Pablo tranca todas as bicicletas com um longo cabo de aço que é unido com um cadeado.
Nas etapas disputadas sob chuva o trabalho do mecânico é bem maior. Além da sujeira generalizada, a atenção é voltada para a relação e para os componentes que podem ser prejudicados pela ação direta da água. São verificados mais atentamente o estado dos cabos de freio e de câmbio e os cubos das rodas podem até ser abertos.
“Prefiro aquele ciclista que é cuidadoso e que chega até a ser chato com a bicicleta,
pois esses caras trazem as bikes prontas para a prova”
MATERIAIS
É da responsabilidade do mecânico toda a parafernália para a limpeza e manutenção das bicicletas. E não é pouca coisa. No carro de apoio que segue a caravana, Pablo carrega uma caixa de ferramentas com os itens mais usuais.
Mas há outra caixa de ferramentas maior que fica no carro de transporte da equipe. Ali, além dos produtos usados no ciclismo, há também itens inusitados como tesoura, detergente para as mãos, tesoura, Superbonder, esparadrapo, trava rosca, vários tipos de lubrificantes e graxas e fitas do tipo zip-tie.